AED Days 2023 – A consolidação
Na edição mais frequentada de sempre, falou-se de aviação sustentável, de internacionalização, da nova face da defesa e do espaço ao alcance de todos. O momento é de mudança e de oportunidades.

Bastariam os números para classificar a décima edição dos AED Days como um sucesso: 620 participantes, 289 empresas, 21 nacionalidades participaram no evento do cluster que representa já um total de 1,7 mil milhões de euros, 87% destes em exportações. Mas o valor deste encontro ultrapassa a contabilidade, sublinhou o Secretário de Estado da Economia, Pedro Cilínio, um dos governantes que passou pelo Taguspark, em Oeiras. “É também uma demonstração tecnológica do País”, disse o licenciado em Engenharia e Gestão Industrial. “As empresas para estarem neste setor têm de estar no topo. Esta é uma montra que ajuda a promover uma imagem de capacidade tecnológica no estrangeiro, o que nos traz investimento e setores de atividade que contribuem para a alteração no perfil da nossa economia.”

Quando a associação dos três setores – aeronáutica, espaço e defesa – ultrapassa os 120 associados, é altura de apontar o foco à internacionalização, como reforçou o Presidente da AED, José Neves, na sua mensagem de abertura da conferência, em que referiu a intenção de “projetar o cluster internacionalmente”, “fomentar a colaboração entre pessoas e nações” e “aumentar a credibilidade do País”, tendo sempre como base a promoção do conhecimento e assumindo como o principal objetivo dos AED Days o incentivo às “conexões e colaborações.”

 

“Temos previsto um retorno de 33% na Lei de Programação Militar, mas temos de ter mais, temos de ter um retorno de 100% para a economia portuguesa”
José Neves

Outros pontos realçados logo na sessão inicial por José Neves foram a perspetiva da aviação como um motor de desenvolvimento socioeconómico. Numa altura em que está a ser desenvolvido o primeiro avião português, sob a responsabilidade da EEA Aicraft, com produção em Ponte de Sor, esta ligação torna-se especialmente evidente. Cem milhões de euros de investimento e a criação de 300 postos de trabalho diretos fazem do projeto de aeronave ligeira para 19 lugares, destinado aos mercados africano e da América Latina, um importante marco na economia nacional.

Diretor de Aeronáutica e Defesa do Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto, Ceiia, Miguel Braga não falhou nenhum dos dez eventos dos AED Days. E não tem dúvidas quanto ao sucesso crescente da conferência, que acaba por ser, na sua opinião, uma demonstração de que foi acertada a decisão de juntar os três setores num único cluster. “Estas sucessivas edições mostram que a decisão que tomamos há cinco ou seis anos de juntar as três subáreas foi uma boa decisão”, sublinha Miguel Braga. “Tínhamos dúvidas, mas conseguimos criar escala, o que é decisivo para a afirmação destes setores. Beneficiámos desta junção, num setor que exige integração”, complementa.

Outra forma de avaliar o impacto da agregação é pelo crescimento no número de associados, reforçando a complementaridade característica da área. “Os outros setores começam a olhar para este como um setor acessível”, nota, dando o exemplo da indústria dos moldes, software, automóvel e até da saúde que têm vindo a alargar-se a outras áreas, nomeadamente às representadas pela AED, porque o “know how se aplica.”

“Os construtores de automóveis aperceberam-se de que este [Mobilidade Aérea Urbana] é um mercado interessante e começaram a fazer grandes investimentos.”
Frederico Fernandes

Até porque estes três setores são cada vez mais parte da vida de todos nós. Keisuke Yasukoshi, business development manager da empresa de e-VTOL, SkyDrive, com sede em Toyota, no Japão, é provavelmente o participante que percorreu mais quilómetros para chegar a Oeiras. Na sessão sobre o Futuro do Voo, em que participou como orador, o japonês deixou precisamente esta mensagem de generalização do recurso ao voo como modo de transporte diário. “Toda a gente quer voar”, observou. E voar será para “o público em geral, não só para os ricos. Será para o dia a dia”, insistiu. Na sua primeira visita ao País e admitindo nada saber sobre o ecossistema, mostrou-se surpreendido de forma positiva. “Vejo que é um bom mercado, uma boa oportunidade. As coisas estão a começar a acontecer”, observou. Ocupando o lugar de moderador na mesma sessão, Frederico Fernandes, General Manager da VPorts, companhia promotora da Urban Air Mobility, disse-nos que este mercado, da Advanced Air Mobility, “cresceu como um cogumelo”, alimentado por investidores de todo o mundo. Tudo terá começado em Sillicon Valley, onde “se aperceberam que a advanced air mobility era possível” para avançar para o resto do mundo, com inúmeras iniciativas em curso. “Os construtores de automóveis aperceberam-se de que este é um mercado interessantes e começaram a fazer grandes investimentos”, diz, dando como exemplo o caso do fabricante automóvel com sede em Seul, Hyundai. “Começou a ser uma coisa séria!”

Defensor de que o futuro da mobilidade terrestre também passará pela mobilidade aérea, “mais sustentável, menos barulhenta e menos onerosa”, Frederico Fernandes diz que é tempo de definir os procedimentos e criar as regras, por parte das autoridades civis, para que esta se torne uma realidade. “Este novo setor traz desafios. Ao nível da propulsão – não conhecemos os motores -, não conhecemos a forma da asa, a maneira de conduzir. Não conhecemos o material nem o software.”, quer Frederico quer Keisuke estão de acordo que neste campo, será o Médio Oriente a liderar. “Há mais flexibilidade, motivada pelos interesses económicos”, justifica Frederico Fernandes. “[O Médio Oriente] vai puxar a carroça e o resto do mundo acabará por seguir as pisadas”, remata.

“Vivemos tempos entusiasmantes na aviação”
Rosalinde Van der Viles

Um tema praticamente transversal a todo o encontro, presente nas apresentações, conversas paralelas e projetos em exposição no hall do centro de congressos do Taguspark: a neutralidade carbónica. “A descarbonização é um dos nossos principais objetivos, o desafio do século”, declarou José Neves aos participantes do encontro em que a manhã do segundo dia foi inteiramente dedicada ao tema da aviação sustentável. Uma mudança que a Europa está preparada para enfrentar, defendeu a responsável pela iniciativa europeia Clean Planet, Rosalinde Van der Viles, que referiu as soluções saídas da investigação e desenvolvimento, extensíveis a toda a cadeia de valor. “Vivemos tempos entusiasmantes na aviação”, disse a dirigente.

Um dos exemplos desta transformação, transversal, apontado por Manuel Costeira da Rocha, Diretor de Estratégia Tecnológica na Smartenergy, empresa focada no investimento em energias renováveis, é a aposta da petrolífera Galp em hidrogénio verde, em que o objetivo foi fixado nos 600 Megawatts ou ainda a decisão no Japão de, até 2030, se incluir dez por cento de combustíveis sustentáveis na aviação. Uma mudança inevitável e que começou a “descolar” no ano passado, defendeu Klaus Mueller, da consultora especializada em aconselhamento estratégico no setor aeroespacial, Aerodynamic Advisory. “Muitas empresas nos EUA estão a perder funcionários porque as pessoas não querem trabalhar nesta indústria. Ao descarbonizar não estamos apenas a descarbonizar a aviação, estamos a salvar o nosso estilo de vida”, afirmou, relembrando a meta de eliminar todo o CO2 da atmosfera, até 2100. Para lá chegar, o especialista defende uma abordagem baseada em múltiplas soluções. O SAF, “crucial”, para a redução das emissões nos próximos dez a quinze anos. Com o hidrogénio a continuar a ser considerado uma boa alternativa, desde que seja resolvida a questão do armazenamento. “Os americanos tendem a não fazer nada até que seja viável economicamente. Mas quando entram, rapidamente encontram soluções e aparecem com novos desenvolvimentos”, disse. Crises são também oportunidades de mudança, diz a cartilha da gestão. E esta, gigantesca e global, pode ser aproveitada por Portugal para se tornar independente. “A mudança para estas novas formas de energia está a dar aos países uma oportunidade de independência energética. É uma oportunidade para o futuro”, deixou Klaus Mueller, como mensagem final.

“Teremos uma presença permanente no espaço, a partir de onde faremos a monitorização da vida na Terra”
Ricardo Conde

Mesmo que não servisse para mais nada, o espaço teria sempre o seu papel inspirador, sobretudo para as gerações mais novas. Mas do espaço também podem vir as soluções para boa parte dos problemas que experienciamos na Terra, lembrou o Presidente da Portugal Space, Ricardo Conde. Um exemplo são os sistemas de observação espacial que permitem acompanhar produções agrícolas. “Com imagens de satélite conseguimos aumentar em 10% a produção”, sublinhou Ricardo Conde, que visualiza neste novo modelo de acesso ao espaço, o New Space, uma estação espacial privada, hotéis espaciais e a perspetiva de militarização do mesmo. “Teremos uma presença permanente no espaço, a partir de onde faremos a monitorização da vida na Terra. Não se surpreendam se daqui a uns anos, juntamente com a conta da água vier uma taxa relativa ao lixo espacial, à semelhança da taxa de remoção dos resíduos urbanos”, adiantou.

Investidor e autor de livros dedicados à economia do espaço, Raphael Roettgen, da E2MC, detalhou o momento atual, que classifica como “um ponto de inflexão”, onde começa a ser possível pensar, e investir, em setores como a mineração em asteroides ou a produção de medicamentos ou de tecidos celulares em órbita da Terra. Muito além das “viagens de milionários.” Um domínio “estratégico”, defende o especialista. “Como estaria a Ucrânia se não fossem os satélites?”, questionou.

Uma redução de custos no acesso ao espaço da ordem dos 95%, acompanhada de uma extraordinária diminuição no tamanho dos satélites – “de um autocarro para 30 centímetros”, com miniaturização dos próprios componentes, torna possível estes e outros modelos de negócio que há apenas uma década estariam apenas presentes nas obras de ficção e agora estão nas carteiras de investimento das empresas de capital de risco.
Outro tema incontornável, a Defesa fez parte de muitas das apresentações, mas não é só a conjuntura atual, com a Guerra na Ucrânia, que nos aproxima desta área, sublinha Rui Santos, Diretor Geral da AED. “O entendimento comum de que nós, como Europa, precisávamos de harmonizar e impulsionar os nossos esforços coletivos para um mecanismo de Defesa melhor e mais resiliente, para salvaguardar nossos valores e modo de vida, começou há já alguns anos. Em Portugal, o nosso papel é sermos capazes de contribuir para este esforço conjunto de uma forma que permita também reter cá a mais-valia económica e tecnológica” afirmou Rui Santos.

Uma afirmação com que o Almirante Gouveia e Melo não poderia estar mais de acordo. “Há muitos anos que estávamos a tentar clusterizar as nossas atividades com a indústria nacional. Só que esta ainda estava num estado muito larvar de organização”, revela o Almirante. “Aos poucos fomos percebendo que se nos organizássemos em conjunto, a indústria, a academia e os clientes isto seria benéfico para todos”, sublinha o Almirante. Com as empresas que trabalham com o setor da defesa a receberem uma garantia de qualidade que lhes permite depois chegar a outros mercados. “Temos previsto um retorno de 33% na Lei de Programação Militar, mas temos de ter mais, temos de ter um retorno de 100% para a economia portuguesa”, afirmou José Neves, ainda neste contexto.

Durante o evento ainda houve espaço para discutir temas como a Inteligência Artificial, os smart materials, os desafios do recrutamento em áreas tão especializadas. Mas o principal objetivo para a organização, ano, após ano, deste encontro, reforçou José Neves, é a promoção das ligações, a colaboração, as discussões, o debate de ideias. “É uma das razões por que fazemos os AEDDays. Vamos construí-lo juntos.”

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