O dinamismo dos setores de aeronáutica, de espaço e defesa e a forma como podem contribuir para a economia portuguesa e europeia foi um dos principais temas abordados na Conferência TALKS, no primeiro dia da 11ª edição dos AEDDays.
140 membros, 1,7 mil milhões de euros de volume de negócios – dos quais 87% são exportações – e 18.500 empregos. Esta é a “relevância do cluster de aeronáutica, espaço e defesa para Portugal” salientada pelo secretário de Estado da Economia, João Rui Ferreira, na sua intervenção durante a conferência Talks, no primeiro dia dos AEDDays. “Mais de 100 empresas trabalham, todos os dias, a partir de Portugal para a indústria aeronáutica de todo o mundo. Outras 55 são centros de investigação e desenvolvimento. Ou seja, temos mais de 150 empresas com atividade na indústria da defesa a trabalhar ativamente e tudo isto – volto a sublinhar – a partir de Portugal”, afirmou.
Salientando as vantagens competitivas de Portugal, como “a proximidade” com todos os parceiros europeus, a “posição geoestratégica” ou o facto de o país ser reconhecido como uma “referência internacional” na indústria de aeronáutica, espaço e defesa, o secretário de Estado da Economia defendeu, ainda, que a presença de empresas como “a Airbus, Embraer, Leonardo, entre outras” são “claros exemplos de que estamos no caminho certo”. Na opinião de João Rui Ferreira, o cluster AED “está comprometido com um salto qualitativo”, tendo em conta os vários projetos em que participa e, por isso, o secretário de Estado da Economia acredita que “as aprendizagens” retiradas deste cluster “podem ser transportadas para outros setores e criar valor acrescentado”.
Segundo o presidente da AICEP, Filipe Santos Costa, esta indústria “cresceu significativamente nas últimas décadas”. Numa entrevista, durante o networking dinner, também destacou a “atratividade de Portugal” principalmente por causa da “mão-de-obra altamente qualificada”: “Somos muito procurados para investimentos de centros de engenharia, computação, design e desenvolvimento precisamente por causa disso. Estes setores da aeronáutica, do espaço e da defesa são setores de investigação e desenvolvimento, que se desenvolvem muito a par do setor automóvel. O setor dos componentes automóveis é o principal setor produtivo e exportador nacional e sentimos uma tendência quase paralela no setor aeronáutico: cada vez mais Portugal produz e exporta componentes aeronáuticos e é um setor em franco crescimento com cada vez mais empresas”.
Embora o excesso de burocracia, a falta de informação ou a dificuldade de acesso a financiamento tenham sido referidos por vários representantes da Defesa presentes nos AEDDays, o presidente da AICEP não tem a mesma perspetiva: “Não creio que seja um setor que tenha particulares dificuldades no acesso ao financiamento. É um setor que tem outras questões: pode ser elegível para uns tipos de financiamento e não para outros; é um setor mais sensível quanto às exportações que se podem realizar, por exemplo, para fora do espaço da União Europeia e da América do Norte… Além disso, para as pessoas estarem neste setor já têm de ser altamente qualificadas. Não me parece que tenham dificuldades em compreender o mecanismo de financiamento do Compete, seja através da AICEP, IAPMEI ou ANI”.
Para Filipe Santos Costa, “o principal desafio” deste setor é “uma maior inserção das empresas portuguesas nas cadeias globais de produção”, o que pode ser feito “com eventos como este”: “Temos este AEDDays que combina empresas internacionais como a Airbus ou a Lockheed Martin com empresas de uma dimensão que, provavelmente, noutro contexto não teriam acesso a estes grandes players da indústria aeronáutica mundial”.
Exemplo disso é também a Leonardo, que fornece produtos e serviços a Portugal há mais de 25 anos. Eduardo Munhos de Campos, responsável de New Business Solutions da Leonardo, garantiu que a empresa está já a trabalhar com o que chama de “nova geração de aviões” e a “treinar pilotos para voar em F-35, F-16, F-15 e F-18”.
Tal como o chefe do Estado-Maior da Força Aérea, General João Cartaxo Alves, defendeu a necessidade de substituir os atuais F-16 por F-35, também Randy Howard, vice-presidente de Global Pursuits da Lockheed Martin salientou que os F-35 estão “a comprovar o seu valor a defender o espaço aéreo europeu”, estimando que “em 2035, existam mais de 600 F-35 a operar na Europa”. Numa apresentação realizada durante a Conferência Talks, no primeiro dia dos AEDDays, Randy Howard avançou alguns números que ilustram a dimensão da Lockheed Martin: colabora com três instituições militares norte-americanas e 17 aliados; já entregou 990 aviões e treinou mais de 2400 pilotos.
O potencial de Portugal no espaço “é enorme”
Os últimos 10 anos foram de “franco crescimento” para o espaço e os números avançados pela Agência Espacial Portuguesa comprovam-no: o número de empresas portuguesas ligadas ao espaço duplicou para cerca de 70; o setor emprega 500 pessoas; existem 30 centros de investigação ligados ao espaço; o financiamento público duplicou para 80 milhões de euros por ano; as empresas angariaram cerca de 56 milhões de euros em capital de risco e atingiram um volume de negócios de 55 milhões de euros.
Na sua intervenção nos AEDDays, o presidente da Portugal Space, Ricardo Conde, admitiu ter “duas preocupações” neste momento: a segurança e a sustentabilidade. Na sua opinião, uma das soluções para tornar o setor mais resiliente passa por “ligar a defesa ao espaço”.
Para Giorgio Saccoccia, Senior Advisor to the Diretor General, da European Space Agency (ESA), o espaço “é uma das áreas que traz oportunidades de expansão incríveis no futuro”. Para o representante da ESA, o potencial de Portugal no espaço “é enorme” e o que está a acontecer no país “pode beneficiar o resto da Europa”, dando como exemplo o lançamento do AEROS, o segundo satélite português no espaço, lançado em março de 2024.
Na intervenção realizada durante a conferência Talks, Giorgio Saccoccia, destacou também que os projetos nacionais são “uma excelente oportunidade para o setor do espaço em Portugal ganhar importância e subir na cadeia de valor”, da mesma forma que a new space economy pode “acelerar bastante o crescimento económico”. Mas, para isso, afirma, é preciso investir. E aponta a discrepância dos valores de investimento público no espaço: em Portugal, 0,02% do PIB, o que compara com a média da UE de 0,041%.
“Na Europa, primeiro regulamos, depois inovamos”
“Os homens de negócios detestam instabilidade, mas a instabilidade pode prevalecer” – a afirmação é de Paulo Portas, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, na sua intervenção durante a Conferência Talks que foi sustentada por uma série de dados. “Por um lado, existiram inúmeros eventos impossíveis de prever, como a pandemia de Covid-19, a invasão da Ucrânia pela Rússia ou o ataque do Hamas a Israel. Por outro, assegura Paulo Portas, existem dois fatores que contribuíram para a instabilidade – a “incapacidade” das Nações Unidas de “prevenirem conflitos e gerirem os impactos” e o facto de estarmos habituados a conflitos entre Estados quando, atualmente, não é isso que acontece: “O Hamas não é um Estado. Putin não é um Estado. Esta é a complexidade do nosso sistema internacional”.
Apesar do contexto adverso, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros sublinha que “as previsões foram demasiado pessimistas, enquanto os resultados foram melhores” e, como tal, acredita que “o que aconteceu em 2023 serve de lição”: “Há um ano, a economia norte-americana ia entrar num ciclo de estagnação; há um ano, a China ia ter uma recuperação económica fantástica; há um ano, cinco das principais economias europeias iam entrar em recessão. Nenhuma destas previsões foi confirmada pelos factos”.
Embora Paulo Portas refira que “2024 poderá ser um ano mais positivo para a economia europeia”, ressalva que existem dois grandes problemas: a demografia e a investigação e desenvolvimento (I&D). Para além da China e do Japão, o ex-ministro defende que “temos que nos habituar à Índia” que “está num bom momento” e vai, no seu entender, “ultrapassar a China na sua contribuição para o crescimento global” – afirmação que sustentou com dados que preveem que é na Índia, China e Paquistão que vão nascer a maioria dos bebés (em 1000 bebés, 172 vão nascer na Índia, 103 na China e 47 no Paquistão, o que contrasta com 30 nos EUA e 22 no Brasil). Ao mesmo tempo, antecipa que a China vai ultrapassar os EUA enquanto principal país exportador, desencadeando “a tensão das nossas vidas” entre as duas potências.
No que diz respeito à I&D, aponta o dedo à UE pelo excesso de regulação, em particular, por exemplo, na área da inteligência artificial: “Qual é a posição dos EUA? Primeiro inovamos, depois regulamos. E na Europa: primeiro regulamos, depois inovamos. Já na China, podem inovar, mas têm de pedir autorização ao partido primeiro”, afirmou Paulo Portas, com sentido de humor, provocando gargalhadas na audiência.
Sobre o contexto internacional, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros destacou as eleições nos EUA e o possível impacto no contexto geoestratégico: “Suspeito que as eleições nos EUA são mais importantes para o mundo do que para os norte-americanos. 50% dos norte-americanos não votam porque o Estado não é relevante para a economia. Mas nós dependemos muito do resultado das eleições, sobretudo no contexto internacional. Há um candidato que tem a possibilidade de ser Presidente outra vez. E, se isso acontecer, tal como ele já afirmou, vai ‘desistir’ da Ucrânia. Interpretação? Vai abandonar a Ucrânia. Se os EUA abandonarem a Ucrânia, a Europa fica sozinha a lidar com Putin e Putin terá uma vitória política, mesmo que não consiga a vitória militar. E vai apreciar a fragilidade do mundo ocidental. Agora pensem no seguinte: ele fez oito intervenções militares, para fora das fronteiras russas, em 23 anos. O que têm em comum estas intervenções? São todas em antigas repúblicas soviéticas. Se ele for bem-sucedido na Ucrânia, quem é que pode garantir que ele vai parar por ali?”.
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