A Defesa ganhou protagonismo nesta edição dos AED Days. Como vê esta questão?
Há aspetos positivos que têm a ver, no nosso caso particular, em Portugal, com uma vontade de incrementar o investimento no setor da defesa e da segurança. E, portanto, esta é uma área e um domínio que ganha um particular protagonismo. Nós falamos em consolidar dois por cento de investimento no setor da defesa e esta passa a ser uma prioridade dentro das prioridades. Isto faz-se notar. Do ponto de vista ferramental e institucional, é uma política que vem sendo desenvolvida neste sentido, com este objetivo. Neste momento estamos numa fase de conclusão da lei da programação militar que tem um programa de investimentos a médio/longo prazo mas que define aquilo que para já serão os investimentos nos próximos quatro anos e que acaba por apostar fortemente no reforço das capacidades deste setor em geral, em particular em áreas como a cibersegurança e a aeronáutica.
Este reforço de investimento, atingindo os dois por cento, irá privilegiar que áreas?
Há várias áreas contempladas neste plano de investimento, cobrindo todos os setores de atividade e todos os clusters do setor da defesa em geral. De realçar o reforço da capacitação, o que é uma prioridade. Essa prioridade passa por apostar na investigação e desenvolvimento e na inovação. Há uma parcela significativa do investimento orientada para este domínio. Não esquecendo obviamente o que é o esforço de reposição das capacidades mais afetadas e das mais carenciadas. O que é uma necessidade transversal aos três ramos das forças armadas – a Força Aérea, o Exército e a Marinha.
Questão dos recursos humanos é mais crítica ainda no setor da Defesa?
Temos de facto um problema de retenção de valor, por um lado, por outro de formação adequada.
E também de requalificação?
Sim! Até porque este é um setor que depende muito de mão-de-obra qualificada. E, portanto, esta é uma necessidade que não é só nossa. E claro que num país como o nosso, pequeno, esta necessidade se faz sentir com mais intensidade. A IDD tem estado envolvida em alguns destes processos. Anunciámos nos AED Days a Academia das OGMA, que vai iniciar o seu processo de formação no final deste ano. Temos também a academia do Arsenal do Alfeite que está a funcionar, já com o primeiro programa de formação – experimental ainda, mas que efetivamente está a apostar na requalificação e aprofundamento nestes domínios. Este é um primeiro passo fundamental e importante.
No entanto, o que tem sido referido, é que continua a ser complicado reter as pessoas. Até muito por culpa da boa formação, já que se tornam muito atrativas no mercado de trabalho.
É efetivamente um problema que tem de ser encarado com seriedade. E é preciso tomar consciência de que precisamos de reter o valor que existe para além de termos de formar novos valores. Mas é de facto necessário desenvolver uma política de retenção deste valor. E isto é uma questão transversal a toda a economia, a todos os setores de atividade económica, públicos e privados. É um problema que tem de ser encarado paralelamente a outros. Precisamos de desenvolver ações para dar resposta e colmatar estas nossas necessidades.
Estamos a passar por dois momentos transformadores. Por um lado, temos a guerra e temos a Inteligência Artificial que subitamente está no centro da preocupação. O que está pensado relativamente à integração destes sistemas de IA, em particular dos Large Language Models, no setor da defesa? É uma preocupação?
É uma preocupação. É verdade que ainda há muito a fazer nesse domínio. Fala-se muito em IA e no seu potencial para incrementar as nossas capacidades de resposta. Também há que desenvolver uma política de conciliação entre aquilo que são as nossas necessidades e o que pode ser o contributo dos novos mecanismos e novas formas de atuação e digitalização. Não será um problema, será um complemento e deve ser visto como tal. E é algo que está a ser feito paralelamente a esta política de investimentos que está programada para os próximos anos.
Este efeito guerra na Ucrânia vai perdurar, no sentido do foco a que assistimos nos AED Days e que tem também estado no discurso política, na definição de políticas públicas, na orientação da investigação?
Acredito que sim. Independentemente de ser por uma má razão, esta guerra entre a Ucrânia e a Rússia veio chamar a atenção para acelerarmos e queimarmos etapas para aquilo que é o desenvolvimento e o progresso que temos de incrementar ao nível económico, para dar resposta às necessidades. Porque esta é uma necessidade efetiva. Tudo o que é investimento neste domínio representa o colmatar de uma necessidade essencial que é de para todos. Quer estejamos próximos, quer distantes dos conflitos, acabamos por estar envolvidos pelas organizações internacionais de que fazemos parte, como é o caso da NATO e da União Europeia. É também uma forma de olharmos para o setor da defesa não como uma despesa em si, mas como um investimento. Aquilo a que chamamos em finanças públicas de despesa reprodutiva.
Uma despesa que vai dar frutos?
Exato. Que vai ter repercussão positiva no futuro. E esta é uma forma de olhar a defesa de uma forma que é diferente da que tradicionalmente tem sido vista. Este tipo de eventos e de iniciativas permitem que se constituam fóruns para uma discussão mais aberta e sensível. De mostrar que esta é uma oportunidade de investimento e de negócio que permite crescer e potenciar a nossa economia e o nosso PIB. De uma forma que não é nova, mas é reforçada. E tem de se chegar ao cidadão, passando esta ideia de que estamos a criar postos de trabalho, contribuindo para o crescimento do PIB, da formação, da exportação de mão de obra e de produtos, conseguindo uma participação real e efetiva nas cadeias de valor.
Dentro da defesa, há algum setor em particular em que Portugal, como país, se distinga?
Começamos a surgir com produtos e participação ativa na cadeia de produção que é de valor acrescentado. A aeronáutica é uma delas. O KC- 390 e o seu surgimento foi um projeto pioneiro e inovador neste setor e é a confirmação de que temos capacidade a nível nacional para podermos também participar, sendo que ainda não podemos fazê-lo sozinhos. E este é um setor importante e no qual podemos ter uma capacidade de resposta muito importante. Não posso excluir o setor naval que é um setor que está em forte reforço de capacidades. Nós temos um estaleiro naval em Portugal, fazemos navios em Portugal, temos esta capacidade de produção, temos tecnologia para equipar estes navios, temos a indústria de moldes que é fundamental para a conceção e a execução dos projetos, temos capacidade de monitorização e de formação digital para assegurar o seu funcionamento e a sua ação no terreno. Portanto, este é um domínio em que temos vários projetos a surgir como é o caso dos navios de patrulha oceânica e que envolvem a construção de seis navios que poderão ser feitos em Portugal. Foi lançado o procedimento concursal, mas obviamente que o nosso desígnio, à semelhança dos outros países, é que ficasse cá, em Portugal. Seria um forte contributo para a indústria nacional e só assim é que conseguimos crescer. Da minha participação em eventos a nível internacional venho-me apercebendo que as nossas empresas, a nossa indústria, para poder conquistar outros mercados e ir além fronteiras, mostrar o seu produto e o seu valor, tem que mostrar que a nível nacional tem um papel importante e é reconhecida pelas entidades com competência para o fazer. Porque se vou vender drones, perguntam-me “vende drones a quem”. As forças armadas portuguesas compram os nossos drones. É uma garantia de qualidade. O que acontece em todos os países e em todos os domínios do setor da defesa.
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